Há alguns anos nossos ídolos eram super heróis das histórias em quadrinhos ou de desenhos animados ou até mesmo de algum filme de Hollywood. Na vida real nós admirávamosos nossos professores, nossos pais, atletas ou alguma pessoa bem sucedida.
Na formação de nosso caráter buscamos sempre nos espelhar em alguém que admiramos, mas nos dias atuais esse referencial tem mudado muito. Vemos os jovens de hoje fazer idolatria à ídolos sem princípios, sem um comportamento social aceitável, que muitas vezes fazem uso ou apologia à drogas, ou ídolos "relâmpago", que surgem impulsionados pela mídia e logo somem no anonimato ou na falta de base para sustentar-se no mundo das celebridades (ex. os big brothers/sister - personagens de programas de reality show).
Vi, e lamentei, a notícia da morte de um desses "ídolos" da atual juventude - a cantora inglesa Amy Jade Winehouse, que com 27 anos deixa a vida terrena numa morte prematura e até este momento sem explicação oficial. Mas ao acompanhar pela mídia a grande repercussão de sua morte comecei a repensar sobre os "ídolos", que, como no caso dela, são pessoas como qualquer outra, mas que possuem algum dom e se destacam em relação a nós, tornando-se referência para milhares de pessoas mundo afora.
Não pensei apenas no personagem em si, mas em todo o contexto - uma pessoa como ela, talentosa, rica, famosa, jovem - "com o mundo aos seus pés" - no conceito geral deveria ser uma pessoa extremamente feliz... pois esse é o sonho de milhões! No entanto, o que se via dela era uma pessoa entregue às drogas, aparentemente depressiva, alheia aos valores sociais, enfim, aparentemente triste! Isso parece ser um contrasenso, vez que ela conquistou e realizou o sonho de tantos!
É exatamente aí que eu me perguntei - De quem é o problema? Da cantora, que em uma de suas músicas mais conhecidas "Rehab" expõe seu problema como se fosse um pedido de socorro e fala da vontade de seu pai interná-la para reabilitação, para o que ela responde "não, não, não"? Ou é da sociedade (dos fãs), que pagava para ir aos seus shows, vê-la se autodestruindo publicamente, muitas vezes não conseguindo completar sequer as músicas e às vezes até cair no palco, como se isso fosse algo normal?! Se esse é um ícone, um exemplo a ser seguido, então a sociedade está doente e precisa urgente de uma reabilitação. Acredito que o problema seja realmente da sociedade, que em crise, em vez de buscar essa reabilitação, nega a existência de tantos problemas e segue dizendo - "não, não, não"! Até onde iremos? Onde chegaremos?
As drogas, o aumento da violência, a falência da educação, a falta de princípios básicos para uma vida em sociedade, a crise na instituição "família", são consequências da nossa tolerância ou de nosso descaso. De pensarmos individualmente que "o problema não é meu" e esquecermos que para termos uma sociedade civilizada não podemos ser tão individualistas.
Se em vez de ficarmos alheios aos problemas e cada um fizer a sua parte, numa visão holística da sociedade, talvez consigamos reverter essa situação de degradação. Mas é aí que esbarramos no maior problema - nosso individualismo/egoísmo.
Não estou aqui julgando a cantora Amy Winehouse ou qualquer outro ídolo da atual ou da juventude de outrora, apenas expressando uma grande preocupação com o que está por vir se continuarmos fechando os olhos para nossas crises sociais. Pense nisso!
Kilderson Cândido Faria